terça-feira, 25 de agosto de 2009

RECORDANDO O PASSADO E CITANDO O DN DE 24/8/09

A FORÇA AÉREA NO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA
A PROPÓSITO DO PAPEL MUITAS VEZES IGNORADO DAS FORÇAS ARMADAS

Os anjos-da-guarda que voam sobre a ilha dourada
Uma aeronave C12 Aviocar do Destacamento Aéreo da Madeira (DAM), descolou três vezes de Porto Santo para o Funchal a fim de transportar um paciente com princípios de enfarte, outro com uma fractura no calcanhar e um terceiro com quadro clínico complicado.

Dois dias antes, a mesma aeronave efectuara um voo nocturno para transportar uma grávida que necessitava de assistência hospitalar no Funchal, tendo voltado a descolar no dia seguinte duas vezes, com um paciente que se queixava de dores abdominais, e com outro que apresentava cortes profundos na face. Chegado o fim-de-semana, o Aviocar voltou a sair três vezes da pista do Porto Santo para o Funchal para transportar um doente com uma hemorragia, outro que havia sofrido um corte profundo num membro inferior e ainda um paciente com problema ocular. No domingo, somaram-se mais duas missões de evacuação sanitária: um doente com uma hérnia e outro com fortes dores de cabeça.

Estas são algumas das notícias, entre muitas, colocadas online na página do Estado Maior da Força Aérea (EMFA) depois dos acontecimentos, e que não chegam aos jornais. A não mediatização destas operações faz parte da postura dos militares quer do Destacamento da Força Aérea em Porto Santo (DFAPS), quer do DAM, ambos sediados na ilha dourada.

Uma ilha amarela de areia, com 5 mil habitantes, número que quadruplica nos três meses de Verão, que já merecia mais do que um Centro de Saúde. E a população de Porto Santo sabe disso. Quanto aos turistas, provavelmente desconhecem mas os madeirenses que ali fazem férias conhecem bem a realidade. Daí o carinho e respeito que nutrem pelos militares que lhes dão segurança a qualquer hora do dia ou da noite, evacuando-os rapidamente para a ilha-mãe. A aviação comercial não dá resposta e o ferry que faz a ligação interilhas demora mais de duas horas com horários incompatíveis às dores da gente que não vem no jornal.

Há crianças que nascem a bordo do Aviocar e mães que na aflição das horas que antecedem ao parto esquecem os sapatos por debaixo da maca onde se deitaram nos 15 minutos de voo de aflição, sempre acompanhadas por pessoal médico do Centro e por militar enfermeiro da Força Aérea Portuguesa (FAP).

"Vamos deixá-los no Centro de Saúde para os entregarem à senhora", diz-nos Rogério Salvado, um dos jovens pilotos do Aviocar, enquanto retira do interior da aeronave as sandálias da paciente transportada, a fim de guardá-las em local seguro.

No Destacamento da FAP em Porto Santo há também esse sentimento devido às ligações muito directas ao povo. Sente-se esse querer ajudar, sem horas, nem perguntas. Cumpre-se um dever colocando o lado humano no topo das prioridades. Nas instalações perto do aeroporto, e que não são muito grandes, há um silêncio funcional.

Uma calma necessária para manter a cabeça fria das tripulações quer do Aviocar, quer do Merlin EH101, o helicóptero-jóia da coroa. É que a principal missão da FAP, depois da Defesa Nacional, é a de SAR, Busca e Salvamento, para as quais têm um orçamento próprio, enquanto que as de evacuações sanitárias, previstas no caso das ilhas, são suportadas por quem solicita o serviço, neste caso os serviços de saúde, que no final do ano costumam acertado contas com o EMFA. Cifrões que representam, a maioria das vezes, uma vida. Daí que os 2 mil euros/hora do Aviocar e os 7 500/hora do Merlin possam, à primeira vista, parecer um luxo, acabam por perder o peso do dinheiro.

Se em 2008 o total das 155 missões numa soma total de 500 mil euros, tendo sido transportados para o Funchal cerca de 190 doentes. Este ano, os números serão mais elevados, uma vez que só até Agosto a FAP já colocou na Madeira 87 pessoas.

Mas é também na Madeira que a sua presença tem enorme relevância, sobretudo a do Merlin, nas operações de resgate quer no mar, quer nas montanhas. E isso acontece mais vezes do que muitos julgam.

À volta da mesa de trabalho, juntam-se o capitão Rogério Martins, em exercício de funções como comandante do DFAPS e o tenente-coronel Pinto, comandante do DAM e piloto do Aviocar.

O primeiro organismo tem por missão a manutenção das infra-estruturas atribuídas, comando, área de apoio, pistas e placas, hangar, paióis, navegação e rádio ajudas) apoio logístico ao DAM e outras aeronaves militares, nacionais e estrangeiras, a recepção e armazenamento de combustíveis na ilha, e a colaboração com o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros em situações de calamidade pública. Contam com 15 militares e 32 civis.

Ao DAM, para além da busca e salvamento, cabe, ainda, apoiar o governo regional da Madeira, o Comando Operacional, a Marinha e o Exército em operações de evacuação sanitária, transporte geral e reconhecimento visual, utilizando um helicóptero EH101 Merlin (Esq. 751) e um C212 Aviocar (Esq. 502), num total de 10 militares. O C212 deverá ser substituído em breve pelo C295, mas deixará saudades.

Ainda há dias, a FAP foi notícia após um rapaz que andava à pesca da lapa nos recifes de S.Vicente (norte da Madeira) ter sido resgatado já de noite, ao fim de 4 horas de luta contra um mar revolto, "graças à acção da Capitania, Sanas e Merlin da Força Aérea", pilotado pelo major João Carita e que considera ser este "o melhor helicóptero do mundo", pois permite a busca nocturna e tem o dobro da capacidade de alcance do velho Puma, com bilhete de identidade registado no final dos anos 60, e de que os madeirenses bem se lembram.

Ou seja, o Merlin vai até às 400 milhas enquanto o Puma se fica pelas 200. Este aparelho chegou ao Porto Santo em 1991 para apoio às operações decorrentes do derrame de crude de um cargueiro, permanecendo na ilha com o início da guerra do Iraque até ser substituído pelo Merlin, em 1996

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