PENSAMENTOS ABERTOS E LIVRES - 195 (VERGONHA DO ESTADO NA GRANDE LOJA REGULAR DE PORTUGAL)
Ao longo dos anos, a Grande Loja Regular de Portugal (GLRP) tem sido apresentada como um espaço de elevação moral, rigor ritualístico e compromisso com valores universais como a ética, a liberdade e a fraternidade. Contudo, para muitos observadores internos e externos, a realidade prática distancia-se significativamente desse ideal proclamado.
Um dos aspetos mais criticados prende-se com o excesso de formalismo e fechamento, que transforma a instituição numa estrutura rígida, pouco permeável à renovação de ideias e distante da sociedade civil que afirma querer influenciar positivamente. O secretismo, que deveria servir a introspeção simbólica e não o isolamento, acaba frequentemente por funcionar como um escudo contra o escrutínio, abafando o debate interno e afastando vozes críticas ou reformistas.
Outro ponto recorrente de contestação é a concentração de poder em círculos restritos, onde a progressão e o reconhecimento nem sempre parecem resultar do mérito, do trabalho ou da elevação moral, mas antes de afinidades pessoais, alinhamentos estratégicos e lógicas de fidelidade interna. Esta dinâmica gera desmotivação, fratura a coesão e contribui para a perceção de que a igualdade proclamada no templo nem sempre se reflete na prática quotidiana.
A GLRP é também alvo de críticas pela sua escassa relevância social concreta. Apesar do discurso de intervenção cívica e de contributo para o progresso da humanidade, muitos consideram que a sua ação pública é residual, pouco visível e, em certos casos, limitada a gestos simbólicos sem impacto estrutural. Para uma organização que se reclama herdeira do Iluminismo e da razão crítica, esta ausência de protagonismo nos grandes debates contemporâneos é vista como uma oportunidade perdida.
Acresce ainda a dificuldade em lidar com a diversidade interna de pensamento. Em vez de um espaço plural e livre, alguns relatam um ambiente onde o conformismo é valorizado e a divergência interpretada como deslealdade. Tal postura empobrece o debate, fragiliza a construção coletiva e contraria o princípio iniciático de permanente aperfeiçoamento do indivíduo.
Por fim, a perceção de um distanciamento entre discurso e prática mina a credibilidade institucional. Quando os valores éticos são reiteradamente invocados, mas não plenamente vividos na governação interna, nas relações humanas ou na gestão de conflitos, instala-se a descrença e a erosão da confiança.
Em suma, o pior da Grande Loja Regular de Portugal, na ótica dos seus críticos, não reside na sua existência, mas na incapacidade de se reinventar, de ouvir, de abrir janelas ao mundo e de alinhar verdadeiramente os seus princípios fundadores com a realidade do seu funcionamento. Sem essa reflexão profunda, corre o risco de se tornar apenas uma estrutura ritualizada, distante do tempo presente e irrelevante para o futuro.
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