domingo, 31 de maio de 2009

CARTA ABERTA A JOSÉ EDUARDO BETTENCOURT

Sr. Candidato a Presidente da Direcção do
Sporting Clube de Portugal.


Aproxima-se o dia 5 de Junho, no qual os associados do Sporting Clube de Portugal vão ser chamados a votar em listas para os Órgãos Sociais do clube. Por força de alguns condicionalismos neste acto eleitoral limitei-me ao estatuto de observador. Sem nenhum envolvimento na campanha eleitoral, mais fácil se torna a análise às candidaturas.

Não sinto que os meus direitos de associado fiquem limitados por qualquer motivo. E como tal, entendo expressar publicamente as minhas preocupações quanto ao previsível futuro do Sporting.

Como podem estar os associados do clube sossegados se o senhor for eleito? O que acontecerá quando a anestesia da sua candidatura for exposta à realidade?.

Recordo um momento datado no tempo, em 2000. Cerca de um mês depois do senhor ser nomeado Director “altamente remunerado” (palavras suas na ocasião) do futebol do Clube, esteve presente no Encontro de Núcleos realizado em Alcochete. Nessa sessão, entre várias explicações não me esqueço de uma afirmação contundente da sua parte. “Vou ser altamente remunerado para me dedicar por inteiro aos objectivos do Clube e aceito que depois me julguem pelo cumprimento ou não do serviço”.

É importante recordar o que aconteceu a seguir. Durante os três anos em que se manteve o cargo, o Sporting foi campeão nacional uma vez. Com que equipa? Com uma equipa razoável onde pontificava um excelente finalizador. E quais foram os custos que isso provocou na gestão do clube? Posso afirmar que foram enormes.

E o senhor que é considerado um gestor de cinco estrelas não fez nada de diferente ao que outros fizeram no passado na gestão do clube. Mas, uma coisa é diferente: foi dos que mais aumentou o passivo do clube e como tinha consciência da situação saiu airosamente com menos um mês de exercício no seu ultimo ano de funções. Deixou a época seguinte preparada apenas e somente com a contratação do treinador, quanto ao resto nada mais. Mas, o seu silêncio ao longo destes anos permitiu anestesiar muitos associados que não conhecem na profundeza certas situações. O seu silêncio a juntar às manobras que foram ocorrendo, faz-me recordar a guerrilha taliban!

Caro associado José Eduardo Bettencourt, se for capaz diga-me se é verdade ou mentira que depois de ter saído da gestão do clube e em especial durante a primeira saída do director desportivo do clube (o tal que recebeu um prémio de gestão e depois foi para a concorrência); o senhor participou em almoços ou jantares com o actual vice-presidente Migue Ribeiro Teles, com Paulo Bento e Pedro Barbosa. O objectivo que vos unia era somente desestabilizar a produtividade da equipa profissional.

Os sinais dados agora levam a crer que aqueles factos são verdadeiros. Porque nunca vi em clube algum no mundo um candidato a presidente da direcção colocar como condição para aceitar candidatar-se que o actual treinador se mantenha em funções, mesmo quando já deu provas que as capacidades de sucesso são limitadas. Por outro lado, caso o senhor venha a ser eleito ficamos desde já a saber que num dia em que ocorra a necessidade de substituir o treinador o senhor também terá que sair.

Tal só não acontecerá se o senhor mais uma vez falta à verdade. Porque é bom não esquecer que andou meses a fio a afirmar que não se candidatava e inclusive transmitiu o apoio a um pré-candidato. Acho que é demonstrativo da sua falta de cultura desportiva. E não engane os associados com o modelo importado do Porto. Por várias razões:

1. Não há dois modelos iguais em instituições diferentes;
2. Falta-lhe cultura desportiva e isso aprende-se noutros locais;
3. Tem um vazio de ideias e estratégia, limita-se a ser porta-voz daqueles que o colocaram a desempenhar este papel.

Caro associado tem ou não conhecimento de quem organizou a famosa manifestação de adeptos jovens leoninos que saiu de Telheiras e foi para a porta da sede insurgir-se contra o então Presidente Dias da Cunha e o treinador da equipa. Estou convicto de que sabe dar a resposta pronta.

Por onde andou o senhor durante estes anos todos. Agora quer-nos fazer acreditar num modelo de gestão diferente do que tem ocorrido? Dá a sensação que durante estes anos não teve responsabilidades na gestão do clube. Aliás, interrogo-me como é possível a composição da sua lista.

Não tenho duvidas em qualificá-la de grandes artistas circenses. Já estiveram com projectos diferentes e expressaram opiniões contraditórias mas o que importa é continuar na crista da onda, como dirigente. Muitos exemplos podem ser referenciados, desde a personagem que melhor encara a verborreia de ideias de desportivas, que tem tido um conduta exemplar de coerência em pensamentos que só as ocultas tareias lhe fazem acreditar no seu projecto, foi o milagre da intelectualidade. Muito mal ficarão os associados representados na sua figura cimeira.

O que devemos dizer daquele grande sportinguista que durante anos liderou o Conselho Fiscal, apesar da empresa a quem está associado elaborar as auditorias e de cada vez que muda Presidente descobre-se ocorrências que os auditores nunca descobrem ou encobrem.

Sabe senhor associado José Eduardo Bettencourt porque não acredito em melhores dias para o clube consigo na presidência, além das infelizes coincidências referidas atrás, junto à análise feita, a conclusão de que o senhor demonstra um vazio de ideias estratégicas na esfera do desporto, num momento em que o poder dos clubes vai aumentar consideravelmente nos órgãos federativos, do futebol às restantes modalidades desportivas. Não li um pensamento seu no que respeita à estratégia a adoptar pelo Sporting grande baluarte do ecletismo português.

Sabe que, para além de estar preocupado com o Sporting, estou muito mais preocupado com a qualidade de muitos dirigentes desportivos, em especial do futebol, porque continuam a lidar com uma actividade económica importante de uma forma voluntarista e emocional. O desporto e em especial o futebol em Portugal tem que ser trabalhado com estratégia que salve o produto de consumo, nas suas vertentes todas. Caso não se invertam estas questões perdemos o comboio da competitividade definitivamente. Estou convicto que não sabe do que estou a falar porque é daqueles que olha para os adeptos com sobranceria e menosprezo.

Acrescento ainda a preocupação de o senhor não assumir com clareza quanto é que está disposto a receber de vencimento. Sou daqueles que aceito que hajam cargos remunerados no clube, mas exijo que tudo seja claro e transparente. Não podemos condenar os outros quando não o praticamos em casa.

A terminar quero expressar-lhe que dois sentimentos muito leais e frontais, caso seja eleito Presidente:

1. Desejo que nos próximos anos o clube tenha os maiores êxitos desportivos no futebol e noutras modalidades;
2. Se tal não acontecer serei o primeiro a dizer-lhe que abandone a presidência do clube porque terão sido provadas as minhas preocupações.

Muito mais deveria transmitir nesta mensagem, mas como espero que no decorrer desta semana de campanha eleitoral surjam respostas cabais para apontar caminhos e soluções para o Clube, reservo-me à observação atenta até ao dia 5 de Junho e redobrarei aquela atenção após o acto eleitoral.



Alcochete, 31 de Maio de 2009


Saudações Leoninas



Zeferino Boal

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