HISTÓRIA 410
E agora para os fans do futebol e para esquecer o desastre de ontem.
Estava eu numa tripulação de DC-6 destacada em Luanda na fase de descolonização em 1975.
As nossas missões eram quase sempre aventuras, e por isso não é de estranhar que um dia fomos taskados para uma missão a Nova Lisboa, actualmente Huambo, na véspera da retirada da última unidade militar portuguesa na área, uma companhia de caçadores do exército, para retirar por via aérea suposto material oficial de arquivo do exército.
Estávamos a aguardar o carregamento do avião no aeroporto de Nova Lisboa quando o capitão comandante da companhia do exército se apresentou ao nosso comandante para lhe pedir para levar para Luanda um elemento do MPLA.
Tratava-se de um dirigente do MPLA que se tinha refugiado no aquartelamento português, dias antes, aquando do ataque e conquista da cidade por parte da uma facção autónoma da FNLA, chefiada por Daniel Chipenda.
O dito capitão tinha receio que esta facção descobrisse que os portugueses o estavam a esconder e viessem s exercer alguma vingança. Assim que se queriam ver livre dele antes de iniciarem a retirada por terra.
O comandante bordo e da missão, que era o Capitão Pil. Humberto Carvalho, mais conhecido por "Irmão", que concordou ajudar e em levar o dito cujo elemento para Luanda ficando contudo à responsabilidade do comandante da companhia conseguir colocá-lo no avião.
Efectivamente pouco tempo depois chegou um jeep com o sujeito e ele foi introduzido no DC-6.
Após terminar o carregamento a tripulação preparou-se para o voo de regresso. E já a rolar para a pista para descolar fomos surpreendidos pela perseguição e obstruídos à entrada da pista por uns grupos armado em quatro jeeps que nos impediu de prosseguir com a descolagem.
Depois de uma longa espera e a chegada de uma escada, alguns elementos armados entraram no avião e retiraram o elemento do MPLA que desceu as escadas aos trambolhões e foi imediatamente levado daí numa viatura.
Entretanto mandaram sair a tripulação e ficamos alinhados no fundo da escada com as armas apontadas às costas.
Passados um intervalo de tempo, que me pareceu uma eternidade, vi chegar um jeep com mais algumas pessoas pretas e fortemente armadas. Ainda ouvi perguntar por quem era o comandante do avião e de seguida começou um diálogo que se percebia tenso e ameaçador entre um indivíduo alto e magro e o nosso Capitão Humberto Carvalho. Depois, de repente, a conversa mudou e de começei a ouvir falar de futebol. E pensei cá para mim: será que quando estamos à espera de levar um tiro começamos a delirar?
E de seguida ouvi o Capitão Carvalho dizer à tripulação para regressar imediatamente ao avião.
Regressamos aos nossos postos, escada retirada, motores em marcha, alinhar na pista e descolar.
Só quando estávamos já no ar é que alguém perguntou: Comandante afinal o que é que se passou? O que era aquilo do futebol?
E o Humberto Carvalho explicou: aquele rapaz alto de camuflado era o Daniel Chipenda. O Chipenda que tinha estudado geologia na Universidade de Coimbra Coimbra e fora jogador da Académica de Coimbra e até campeão nacional pelo Benfica na época de 1956-57. Nessa mesma altura o Humberto Carvalho jogava no Académico de Santarém.e tinham- se defrontado várias vezes e por isso se reconheceram.
E foi este facto de se reconhecerem que levou a que o Chipenda nos libertasse dizendo que tinha tido muito gosta em rever o Humberto Carvalho e que por ele nos libertava e podíamos regressar a Luanda, mas recomendando que nunca mais voltasse a acontecer a mesma coisa. E com um abraço entre os dois nos safámos de pior.
Depois ainda voltei a ver o Chipenda um par de vezes em situações complicadas, mas isso são outras história que ficam para outra altura.
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