Talento na política: precisa-se!
Quando há seis meses escrevi que Manuela Ferreira Leite se “arriscava” a ser o próximo primeiro-ministro de Portugal muitos se riram.
Hoje, após as eleições europeias, sabemos que esse dia está mais próximo. É o fim de uma política de anúncios, muito assente na imagem de José Sócrates, e com uma estratégia de comunicação que muitos dizem forte, mas que me parece errónea, pois cria expectativas muito elevadas, quando a capacidade de concretização, e com uma crise global a meio, fica muito abaixo do que se esperava. Eu próprio me senti "enganado" em alguns dos anúncios. Ilustro um último exemplo - http://www.euniversidade.net/. Quando uma forte "propaganda" da campanha me despertou o interesse, decidi consultar a informação disponível e ligar para a linha de apoio. A resposta que tive é que "pensamos que a venda vai ser pela Internet, mas ainda não sabemos quando estará disponível". Erro de marketing. Lançam um programa, com grande divulgação nos media e não garantem a operacionalização. Outros exemplos poderia dar-vos e que o(a) estimado(a) leitor(a) conhece. Ora, foi o sentimento generalizado de "logro", entre outros, para além de uma data totalmente desadequada, que levou a maioria dos portugueses a exercer o seu direito de "não votar" nas eleições europeias. O próximo governo deverá ter um líder que, para além da lealdade, o que poderá também ser um atalho para a mediocridade, através da recompensa de favores, privilegie fundamentalmente a capacidade intelectual, a energia com ética, o talento para motivar e o espírito crítico e de equipa. Portugal não precisa de profissionais "de segunda", que tendem a contratar outros profissionais iguais a eles ou ainda menos qualificados e sem experiência na vida empresarial. Não queremos mais prémios automáticos para funcionários leais e muito menos que se gaste imenso tempo para contratar alguém para resolver a crise. O novo primeiro-ministro deverá rapidamente, após a tomada de posse, preencher as posições de liderança cruciais para tornar Portugal mais competitivo a médio e longo prazo. Precisamos de ter os melhores a gerir os destinos do nosso país. A situação é grave. Requer esforços redobrados e uma visão estratégica do que se pretende. A bajulação deverá ser erradicada, pois a tentação de, até os melhores, caírem nela é grande. É necessário quebrar a dinâmica de inércia, o status quo, e abrir o debate para acolher os melhores, de vários sectores, ouvir as suas ideias, mesmo as divergentes, definir um plano com a identificação de áreas estratégicas de intervenção, com objectivos mensuráveis e níveis de serviço, com medidas de implementação, resultados esperados, posicionamento a atingir, calendarização...
Ao mesmo tempo, a Função Pública deverá ser repensada, a sua missão deverá ser redefinida e ajustada às ‘best-practices' de gestão pública. O papel dos seus colaboradores deverá estar claro, terá que ser objectivo e com processos de avaliação de desempenho adequados. É urgente o desenvolvimento de programas internos que criem competências e motivem as equipas. Deverão ser promovidos estudos internos de medição do nível de satisfação e incentivadas as sugestões e reclamações dos colaboradores, com vista a uma melhoria contínua do funcionamento dos vários serviços. O Estado deverá "abrir-se também para dentro" e mostrar-lhes que cada um deles pode fazer a diferença, estando claro para todos qual o contributo que cada colaborador poderá dar para os objectivos globais da "função pública". É a única forma de se conseguir criar valor no serviço público que se presta e, consequentemente, ter também cidadãos satisfeitos e fidelizados.
Assim, para além da "força" da marca Portugal, da reputação, do marketing social, da capacidade de criar parcerias e da presença em novas formas de comunicação, parece-me evidente que o próximo governo valerá tanto, quanto os profissionais de valor, imunes à promiscuidade partidária e com provas dadas na sociedade, conseguir atrair e fidelizar. Temos um grande desafio e todos podemos ajudar!
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