Citando Hugo:
"No fim-de-semana passado foi denunciado na comunicação social o escândalo que envolve o nosso Vice Ministro das Telecomunicações. Soube-se agora que este overnante é também súbdito da Rainha Isabel de Inglaterra.
Pode um político angolano ter dupla nacionalidade? Não existe na lei em vigor nada que contrarie esta possibilidade ou impeça que alguém com dupla nacionalidade possa vir a ser nomeado para cargos públicos de importância vital para o país. Facto que não impede, a nosso ver, que existam questões de natureza ética que se sobreponham a esta possibilidade. Desde logo, a de saber quais as circunstâncias em que a outra nacionalidade é adquirida, e em que momento da vida deste político, o foi. Independentemente da resposta a todas as questões, a verdade é que ficamos sem saber que interesses defenderá o Vice Ministro Safeca numa questão que envolva os países de Angola e Reino Unido. Em momento algum a decisão que tomar será tida como uma decisão honesta, por parte de quaisquer dos países.
Se a realidade da dupla nacionalidade é uma realidade dura e inaceitável, especialmente pelo facto de ter sido ocultada de todos os angolanos, e naturalmente de S. Exa. o Presidente da República, que o nomeou, a sua negação perante a evidência do facto descoberto, torna esta realidade ainda mais hedionda e gravosa. Estamos a passar de um Vice-Ministro sem ética política, para um Vice-Ministro que não fala com verdade, ou pelo menos que a oculta da forma mais evidente e cínica, negando-a. E agora, queremos um Vice-Ministro inglês e mentiroso?
Mais. Diz-nos o Semanário Angolense que o Vice-Ministro Safeca concedeu a entrevista para responder aos factos referidos, fazendo-se acompanhar do Dr. Carlos Baptista, advogado e Director dos Serviços Jurídicos do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação. É legítima a utilização deste serviço do Ministério para questões privadas? Parece que o Vice-Ministro viu no jornalista do Semanário Angolense o Magistrado do Ministério Público ou o próprio Magistrado Judicial, a quem teria de responder num processo de investigação ou instrução. Nesta perspectiva, o senhor Vice-Ministro viu-se de imediato na obrigação de se fazer acompanhar de um advogado para o representar. Esqueceu-se foi de mandatar um e que, para questões particulares e que não respeitem a assuntos do Ministério não pode usar os serviços do jurista do próprio Ministério, sob pena de utilização de fundos públicos para fins privados. Mas se o Vice-Ministro não conseguiu fazer esta diferenciação entre interesses privados e interesses públicos, não deveria o próprio advogado fazê-lo? Cumprindo assim a sua função enquanto Director dos Serviços Jurídicos do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, e defensor dos interesses deste Ministério, acima de tudo? Que outros serviços terá o Dr. Carlos Baptista prestado já para o senhor Vice-Ministro a título particular? Terá avenças contratadas nas empresas daquele?
E falando em empresas do Vice-Ministro, impõe-se a pergunta que negócios celebrou a empresa Microship Trading com o Estado Angolano? E quem foi o principal responsável pela adjudicação de tais contratos? Sabe-se que esta empresa foi detida até 2008 pelo Vice-Ministro Safeca que ali exerceu funções de Direcção. Quando confrontado com a existência de negócios celebrados entre o Estado Angolano e esta empresa inglesa, o Vice-Ministro, agora nas palavras do Dr. Carlos Baptista, que passou a falar por ele, não negou a existência de tais negócios. Depois, numa clara tentativa de deturpação da realidade, o Dr. Carlos Baptista afirmou que, referindo-se ao período entre 1998 e 2008 em que o Vice-Ministro Safeca era o Director Nacional das Telecomunicações, o Vice-Ministro “não representava a mesma entidade”.
Ora, o que nos parece é que, exactamente por estar a representar entidades diferentes é que os benefícios aparecem para a entidade Aristides Cardoso Frederico Safeca particular de forma acrescentada. Não deixa de ser curioso o facto do objecto social desta empresa do Vice-Ministro estar intimamente ligada com as funções públicas e políticas que tem desenvolvido. Haverá melhor cargo de direcção de uma empresa do que aquele que é exercido por um Vice-Ministro corrupto responsável pelo pelouro correspondente ao objecto social dessa empresa? Esperemos, pelo menos, que sejam pagos os impostos sobre o lucro!!
Todas estas contradições, mentiras e factos mal explicados não abonam em nada a favor da actuação e credibilidade do Vice-Ministro Safeca. Pelo contrário, causam desconfiança e curiosidade de saber mais. Os dinheiros do Estado estão a ser utilizados de forma altamente egoísta, para satisfação de interesses e necessidades muito próprias e particulares deste Governante, que nem a hombridade tem de dar a conhecer a sua própria nacionalidade. Os interesses do Estado estão acima de qualquer coisa e de qualquer interesse. É o interesse de todos nós que está a ser posto em causa, por causa da ganância e desonestidade de um só.
Perante os factos que agora vieram a lume, não podemos deixar de pensar que mais tem o Vice-Ministro Safeca escondido de nós? Que negócios e quais os valores estiveram envolvidos na empresa Microship Trading? Compete-nos agora ir ver os negócios celebrados pelas empresas de Telecomunicações em Angola para verificarmos quais as ligações directas ou indirectas com o Vice-Ministro. Damos exemplos, estarão as empresas Omnidata, Startel e MundoTelecom livres de alguma suspeita? Que tipo de fornecimentos prestaram estas empresas ao Estado Angolano e quem mais terá beneficiado dos mesmos?
Senhor Vice-Ministro Safeca, assuma agora as suas responsabilidades, diga aos angolanos o que mais nos esconde. O dinheiro é nosso, e temos o direito de saber o que está a ser feito com ele. E mais, não queremos responder a Sua Majestade a Rainha Isabel de Inglaterra. Está na hora de regressar à sua terra pátria!
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