domingo, 29 de agosto de 2010

FREEPORT 5



Carta aberta a José António Saraiva

Exmo. Sr.

No dia 6 de Agosto V. Exa. enquanto Director do Jornal Sol publicou um artigo intitulado “À terceira foi de vez”. Li-o e reli-o com redobrada atenção, decidi escrever esta mesma carta.

Como leitor atento há vários anos das escritas de V. Exa. nem sempre concordando com as mesmas, reconheço-lhe enormes capacidades de persuasão e de saber cumprir o seu papel de jornalista e comentador. Às vezes é um grande influenciador de opinião em momentos importantes. No artigo referido estou de acordo consigo, quase em pleno.

O seu artigo é um “mea culpa” do que fez no passado. Recordo-lhe o ano de 2005 em que enquanto director do Jornal Expresso publicou na primeira página a história de uma cabala, inexistente. Teve a desfaçatez de autorizar e colocar nomes de pessoas (por exemplo o meu) como tendo participado em reuniões secretas e coisas do género.

Na época era conveniente estar ao lado do poder! Na época ai de alguém que mantivesse a lucidez em afirmar coisas horrorosas sobre o novato primeiro-ministro, era um tresloucado e nem tinha direito à defesa da sua honra.
Hoje, pessoas como V. Exa. converteram-se à clareza e transparência dos poderes públicos. Hoje, já é hábito e comum opinar sobre determinado tipo de matérias e conteúdos que há cinco anos era impossível.

Sei que o V. Exa. é jornalista e também gestor de recursos, sejam eles humanos ou financeiros. O Jornal que V. Exa. dirige passou por enorme dificuldades (ou passa), para se impor teria que encontrar um caminho das pedras diferente da concorrência, conseguiu. A investigação ao caso Freeport, liderada pela excelente jornalista de seu nome Felícia Cabrita deu-lhe o brilho da luz, que em muito contribuiu para a sobrevivência do projecto.

Mas, também é de referir que no ano de 2005 o tipo de notícias publicadas no Jornal Expresso contribuiria para matar a concorrência.

O motivo desta carta não visa exigir-lhe um pedido desculpas. Como alguém afirma as desculpas evitam-se, não se pedem.

Depois de feitos estes reparos e sabendo de antemão que a sua alteração de princípios e de coerência têm em linha de conta a previsível mudança de poder na governação do país; venho por meio desta carta apelar para que não seja mais um dos cidadãos a cruzar os braços convencido que a investigação do famoso caso terminou.

Se todos os cidadãos contribuírem na defesa de um país mais transparente e de rigor no combate às fraudes e tudo mais subjacente, convictamente viveremos num Portugal mais próspero.

Os melhores cumprimentos

Zeferino Boal

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