PENSAMENTOS ABERTOS E LIVRES - 68 (AS DIABRURAS DE JOSÉ SARAMAGO)
Há 50 anos, o censor José Saramago presidiu ao despedimento de 24 jornalistas do Diário de Notícias, a mando do PCP de cujo "departamento de informação e propaganda" se tinha tornado militante após o "25 de Abril".
“HOMENAGEM AOS 24 SANEADOS DO D.N.
Acácio Franco
António Mendes
António P. Alves
Alberto Santos
Alda Mafra
Adelino Alves
Cordeiro Pereira
Francisco Máximo
João Salvado
João Garin
Jorge Soares
Jorge Tavares Rodrigues
Simões Ilharco
José Sampaio
Luís O. Nunes
Mário Contumélias
Mateus Boaventura
Manuela de Azevedo
Manuel Guerra
Raul Nascimento
Rui Tovar
José Estevão
S. Jorge
Rui Homem
Finalmente descobri a lista dos nomes dos 24 jornalistas do Diário de Notícias que foram saneados em 1975, perdendo os seus empregos, por terem a coragem de se manifestarem contra a orientação ideológica imposta ao jornal pela direcção constituída por Luís de Barros e José Saramago.
Foram 30 os subscritores de um documento que contestava o seguidismo em relação ao PCP, tendo todos acabado por ser suspensos por decisão de um plenário de trabalhadores, no qual o futuro Nobel da Literatura e os representantes da classe dos tipógrafos competiram para ver quem conseguia ser mais sectário.
Oito dos subscritores acabaram por recuar, enquanto dois que não o tinham feito se solidarizaram com os 22 camaradas que iriam ser despedidos ilegalmente, levando a que um total de 24 tenham deixado de pertencer aos quadros do jornal.
Cinquenta anos decorridos desde esse episódio marcante do Verão Quente de 1975, a efeméride passou despercebida em todo o lado, incluindo no próprio Diário de Notícias.
Tudo no limiar do natural. Saneadores e saneados já terão deixado de estar entre nós, a memória das redacções partiu há muito para parte incerta, há sempre muito que fazer e poucas mãos para o que tem de ser feito…
A tudo isto, acrescento um ponto. Olhando para os 161 anos de história do Diário de Notícias, quase sempre um jornal da situação, o que lhe permitiu navegar entre a Monarquia, a Primeira República, a Ditadura Militar, o Estado Novo, o PREC e a normalização democrática.
Saramago não foi o primeiro nem o último a procurar impor determinadas visões do mundo às páginas da publicação criada por Eduardo Coelho. Apenas o fez com a dispensa de subtileza própria de um comunista, tal como décadas antes houve quem o fizesse com os preceitos de um fascista.
E como nunca faltará quem esteja pronto a reproduzir um pensamento único, desde que corresponda aos seus interesses ou convicções, ou seja moeda corrente do regime vigente num determinado momento.
Mas acredito que haverá sempre quem no jornalismo resista a afunilar abordagens e a moldar os factos a narrativas.
Exige coragem ainda que não tanta quanto a que tiveram os 24 saneados do Diário de Notícias no Verão de 1975.”
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