terça-feira, 20 de julho de 2010

Arquitecto do Freeport trabalhou 'de borla' para campanha do PS‏

Arguidos afirmam que Capinha Lopes surgiu por indicação do ex-presidente da câmara José Inocêncio. Inglês contou que nome apareceu numa reunião com um "ministro".

Capinha Lopes, arquitecto que em finais de 2001 assumiu as rédeas do projecto do Freeport, trabalhou de borla para o PS em Alcochete e fez várias campanhas autárquicas da Margem Sul do Tejo em Dezembro daquele ano.

A informação consta do relatório final da Polícia Judiciária à investigação judicial e foi confirmada pelo próprio arquitecto nas declarações que prestou. Um cida- dão inglês ouvido pela polícia britânica adiantou às autoridades que o nome de Capinha Lopes foi sugerido durante uma reunião com um "ministro" que não identificou.

Até 6 de Dezembro de 2001, o projecto da Freeport era da responsabilidade de duas firmas de arquitectos: pelo lado inglês, a Benoy, em Portugal, a Promontório. Após o chumbo ao projecto, naquela data, entrou em cena Capinha Lopes. Da leitura das declarações prestadas no processo por vários intervenientes, não fica claro como é que o arquitecto surgiu.

Manuel Pedro e Charles Smith (antigos sócios na consultora Smith&Pedro e arguidos no processo) foram unânimes: foi o ex- -presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, quem recomendou a contratação dos serviços de Capinha Lopes. Por sua vez, José Dias Inocêncio, também arguido, começou por dizer, enquanto testemunha, que cer- to dia tinha chamado Capinha Lopes, "por uma questão de confiança pessoal, a fim de o aconselhar sobre a viabilidade do pro- jecto".

Porém, já interrogado na qualidade de arguido, negou que alguma vez tivesse sugerido a sua contratação a quem quer que seja. Só que estas declarações contrariam, além das de Smith e Pedro, as do próprio arquitecto. Este, à PJ, revelou que José Dias Inocêncio lhe telefonou a pedir para receber uma chamada da Freeport.

Para adensar ainda mais o mistério sobre a forma como Capinha Lopes apareceu no projecto, Nickolas Lamb, arquitecto inglês da "Benoy", referiu às autoridades recordar-se que, após o chumbo de Dezembro de 2001, "todos [dirigentes ingleses do Freeport] abalaram para Portugal e acamparam no exterior do gabinete do ministro". Mas só Sean Collidge, ex-CEO da Freeport, e Jonathan Rawsnley, antigo gestor da empresa, entraram para uma reunião. Estes, "quando saíram, comunicaram que lhes tinham dito que tinham os arquitectos errados no trabalho". Lamb, de acordo com o seu depoimento, ainda puxou dos galões: "Nós achamos que somos bastante bons." Mas alguém, que não identificou, terá dito que a Promontório, que estava no projecto há 18 meses, "parece que apoiara o partido errado ou votara no partido errado, ou não pagara as contribuições". "Nunca foi bem esclarecido", finalizou.

Segundo o próprio Capinha Lopes, o seu atelier deu uma borla à campanha eleitoral do candidato do PS a Alcochete (José Dias Inocêncio), "para adquirir visibilidade para futuros projectos", e colaborou nas campanhas socialistas de Grândola, Santiago do Cacém, Moita e Barreiro.

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1622041

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