O 1⁰ Maior Evento Desportivo Realizado em Angola

II⁰ Jogos da África Central: Primeiro grande evento desportivo foi há 42 anos “De 20 a 30 de Agosto, em Luanda, Huambo e Lubango, II Jogos da África Central”. O spot com estes dizeres, era difundido na Rádio Nacional de Angola e na Televisão Popular de Angola, desde o princípio do mês de Junho de 1981. Apesar de ter sido numa época em que a concorrência dos medias era impensável, rapidamente o país ficou mobilizado para o grande acontecimento desportivo, que estava a ser preparado com esmero. Nunca antes tinha havido um evento desportivo de semelhante grandeza. Angola estava há apenas cinco anos independente, e como se não bastasse, a resistir à invasão externa, e a realização dos II Jogos da África Central, foi um verdadeiro trunfo das autoridades angolanas, que acabariam por convencer os Estados da região, e não só, de que apesar da agressão de que o país estava a ser alvo, vivia-se, na mesma, um clima de alguma estabilidade. Alguns bons amigos infundiam no estrangeiro, a mensagem de que Angola era um país em que o cheiro à pólvora, pairava “ par tout”, não sendo por isso um bom lugar para se investir, viver ou visitar. Os Jogos não tiveram qualquer alteração de programa. Salvo a retirada, quase à última hora, da cidade do Lubango. Assim, como estava previsto, no dia 20 de Agosto de 1981, o estádio da Cidadela, na época com apenas um anel, vestiu-se de cor, festa e alegria para a cerimónia de abertura. O festival, de quadros humanos, emprestava outro colorido às bancadas, como expressão de capricho na organização. Estudantes de diferentes instituições de ensino do II e III níveis tinham levado semanas a ensaiar os diferentes esquemas exibidos, sob batuta do professor cubano, Adelquis Ramon, também conhecido na altura, e cá entre nós, por mestre Máximo. Aliás, a organização tinha feito o seu melhor para que tudo saísse à contento. Numa da Torres do complexo desportivo da Cidadela estava instalada a Aldeia Olímpica, no pavilhão principal estava montado um mini-centro de imprensa, assim como outros serviços de apoio às delegações participantes. Não houve ausências, e oito modalidades estiveram em evidência. Futebol, basquetebol, andebol, atletismo, boxe, judo, ciclismo e voleibol deram o ar da sua graça. Na época, não se evidenciava o espírito competitivo. Colocava-se, em primeira instância, a necessidade de intercâmbio. Ou seja, o espírito de fortalecimento e estreitamento de relações entre países e povos da mesma linha ideológica. Mas os que puderam bater recordes nas diferentes disciplinas, fizeram-no. No essencial o evento valeu mais pela convivência entre a juventude dos países da zona central de África. Na verdade, o sucesso organizativo dos II⁰ Jogos da África Central, mérito a atribuir à então Secretaria de Estado de Educação Física e Desportos, com Rui Mingas à testa, dizíamos, terá mobilizado o país a acolher outros eventos desportivos de grande dimensão nos anos que se seguiram, embora um ano antes já tivesse recebido o Africano de juniores em basquetebol, em que Angola de José Carlos Guimarães, Victor Almeida, Artur Barros e demais venceu, numa épica e memorável final a RCA de Anicet Lavodrama, Frederic Goporo e outros artistas. A palavra aos testemunhos oculares O Jornal de Angola ouviu algumas figuras do desporto que acompanharam o evento e deixaram o seu testemunho. José Luís Prata, à época piloto da nossa companhia aérea de bandeira, os Jogos constituíram uma capacidade organizacional das autoridades angolanas da época. “Os II⁰ Jogos da África Central foram organizados num dos momentos menos bons do período pós-independência, em plena invasão militar sul africana, com a ocupação de várias parcelas do território nacional. E dentro deste grande conflito armado o desafio era conseguirmos realizar em Luanda e Huambo, com participação de meia-dúzia de países, um conjunto de modalidades diversificadas como futebol, basquetebol, andebol, ciclismo, boxe, atletismo, voleibol e judo, com participações masculinas e femininas. Foi uma demonstração de capacidade organizacional de Angola, alojar e arranjar a logística. Lembro que a TAAG deu uma grande contribuição, fazendo uma ponte aérea com bens perecíveis e sumos, apoio médico, transporte de 1400 pessoas. Enfim, foi uma organização complicada num país em guerra”. Os ll⁰ Jogos da África Central em Angola constituíram uma afirmação do país do ponto de vista desportivo e político. Quem o diz é António Gomes “Tony Estraga”. “Em minha opinião os ll⁰ Jogos da África Central foram efectivamente uma vitória pelo facto do momento que vivíamos do ponto de vista politico e militar. E constituiram uma afirmação do país não só do ponto de vista desportivo mas também com um significado politico . Outro aspecto positivo foi a demonstração da capacidade organizativa. As infra-estruturas também constituíram uma vitória, pois foram os vários equipamentos desportivos que foram recuperados. Podemos ainda acrescentar a formação e capacitação de muitos técnicos desportivos nacionais. Resumindo, julgo que houve na altura uma visão de afirmação aos níveis politico e desportivo. Aliás, vivíamos uma era de “Estado Providência”, com grandes preocupações no bem social, e o desporto e a cultura eram aspectos importantes na politica de governação”. Dedaldino da Conceição, jornalista da TPA, tem sobre os Jogos a seguinte opinião: “Os II Jogos da África Central realizaram-se em Luanda e Huambo, cinco anos depois de Angola ter alcançado a sua independência. Com algum cepticismo por parte dos países da região participantes, houve uma demonstração de ideologia, vontade e determinação patentes num povo unido que fez das fraquezas força em várias esféras. Na altura as mais visíveis para mim, pois ainda era um imberbe de 14 anos, o desportivo e o estudantil, desejo governamental de se impor na região através do desporto face a qualidade dos nossos atletas, tendo em conta os resultados nos contactos internacionais com o bloco socialista. Lembro-me do complexo da Cidadela albergar o maior número de provas, desde o atletismo, futebol, andebol, voleibol, basquetebol além das cerimónias de abertura e encerramento, nas quais tive participação directa nos quadros humanos, como estudante da escola Che Guevara, dirigidos pelo professor Máximo. No final a colheita em termos de medalhas não foi por aí além. Porém, ficou evidente a boa organização e a força mental dos angolanos que mesmo não estando a cem por cento para disputar os lugares cimeiros, deram o aviso a África e ao mundo que havia trabalho interno para preparar um futuro de vitórias”. Inexperiência determina mau desempenho de Angola Matias Adriano

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