terça-feira, 31 de janeiro de 2023

PENSAMENTOS ABERTOS E LIVRES - 8

CASA DE ANGOLA – 3 No passado a gestão das associações tinha uma grande componente do altruísmo e do voluntariado, hoje também existe, há de fato; no entanto os apoios de natureza financeira provenientes por via estatal ou privada abundava, eram os tempos dos “Estados elásticos”. A Casa de Angola não escapou à tipologia de práticas, naquela época a disponibilidade dos associados para cumprirem os seus deveres, nomeadamente o pagamento de quotas contribuía para as atividades serem planeadas cumprindo uma estratégia minimalista quanto bastasse. Foram períodos associativos e como em tudo na vida do ser humano há alterações que ocorrem na sociedade de igual modo, inclusive a forma de agir e viver da comunidade angolana, as dificuldades de hoje podem não ser muito diferentes do passado recente, mas a forma de encarar e solucionar são de grau de exigência e responsabilidade bem maior. Não temos dúvidas que na atualidade os projetos pessoais e egoístas na gestão de uma associação e nomeadamente da Casa de Angola não têm sucesso. Foi necessário arregaçar as mangas e contribuir para uma imagem da Casa de Angola, bem diferente e aberta a todos, nada ocorre de forma secreta nas instalações, apesar da resiliência e contenção das palavras para encontrar soluções que permitam perpetuar o património e de igual modo preservar a História deste ícone da comunidade angolana em Portugal. Estamos conscientes que a comunidade angolana tem características diferentes para além da idade, há os que vieram de Angola em anos anteriores a 1974 e muitos milhares nos anos subsequentes até aos dias hoje. Para além disso, Angola e Portugal estão ligados por um cordão umbilical que felizmente possuem na Chefia dos Estados protagonistas que têm este conhecimento bem enraizado e tentam levar esta mensagem o mais longe possível e em qualquer recanto de cidadania. Em próxima oportunidade expressaremos o que consideramos de primordial importância para que todos possamos integrar e cooperar com a Casa de Angola, e esta possuir a missão de melhor defender a cultura e os valores de Angola na sociedade que estamos inseridos, mas sempre em partilha com outros agentes, nunca como no passado recente que alguns pensaram transformar a Casa de Angola como pilar de unicidade, a Casa de Angola deve ser um polo de respeito na diversidade e abertura alargada, seguindo os exemplos do Presidente João Lourenço. Se no passado os equilíbrios entre cumprir as Leis do Estado Português, onde a associação está inserida também era obrigatório respeitar uma missão do Governo de Angola, no passado recente estes pilares foram desvalorizados de forma irresponsável, por isso há questões fiscais e financeiras que têm sido discretamente resolvidas sem grandes perturbações e com coragem. Sabemos que os sentimentos e emoções não pagam custos, mas as boas vontades e os atos de boa-fé contribuem para a melhor resolução das situações. Todos seremos poucos a salvar a Casa de Angola histórica, seria bom que assim houvesse compreensão, porque a administração fiscal em Portugal não olha a compadrios e intrigas, atua! A complexidade presente do funcionamento da Casa de Angola pode ser facilmente ultrapassada tal como o Presidente João Lourenço tem enfrentado os problemas em Angola e com o espirito humanista do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, sem deixar de olhar para a comunidade com raízes em Angola que gosta das nossas vivências. Em próximo capítulo não falaremos mais do presente e muito menos do passado, apresentaremos ideias que possam contribuir para o futuro de sucesso e aglutinador da Casa de Angola, sempre valorizando os desígnios e os desafios para ultrapassar barreiras. CASA DE ANGOLA – 4 A Casa de Angola enquanto instituição histórica, em 2019 está inserida no seio de uma sociedade bem diferente do que há uma década atrás. Os seus associados como na maioria dos clubes e associações possuem um menor espirito associativo. A liderança tem que ser criativa e agregadora, porque o equilíbrio entre o cumprir normas do direito português também tem que atender a princípios e valores da comunidade angolana. Por outro lado, vivemos num mundo onde muitas pessoas comunicam mais facilmente em especial na propagação de inverdades ou de cenários irrealistas no cumprimento das responsabilidades associativas. A Casa de Angola é uma instituição histórica de referência e representativa dos angolanos, mas também foi, é e continuará a ser um espaço onde nascidos em Angola e seus descendentes matam saudades a diversos títulos. Hoje, mais do que nunca o respeito pela diversidade e o humanismo deve ser mantido nas atividades da Casa de Angola. Não podem existir diferenciações nem rótulos, seja a quem for para melhor acolhermos na Casa de Angola. A Casa de Angola pode e deve ser uma referência de partilha com outras associações da comunidade angolana, não com o anseio em liderar seja o for, mas respeitando a autonomia de todas as restantes associações e tão só prestar o apoio da “marca” no que for útil. Entendemos que a marca “Casa de Angola”, pode ser um referencial de prestação de serviço em algumas áreas, e assim libertar-se de sufoco de gestão rotineiras das associações que se encostam às facilidades dos subsídios, por isso a gestão tem que ser altamente criativa para conservar o legado histórico e fazer crescer para as próximas gerações. Se no passado recente a juventude pouco ou nada procurou a Casa de Angola, atualmente sente-se uma mudança na aglutinação dos jovens porque serão eles a dar a continuidade pretendida. A Casa de Angola não é a comunidade angolana, mas é vista como tal por muitas entidades e por muitas pessoas, no entanto a Casa de Angola pode e deve contribuir onde os angolanos se vejam plenamente reconhecidos, sejam associados ou não. A disponibilidade para servir na Casa de Angola deve ser total, mas os limites e tolerância para a maledicência tem limites, urge corrigir mentalidades e hábitos divisionistas do passado e termos a consciência que toda e qualquer instituição é constituída por homens e mulheres e todos são úteis, que devem dar um pouco de si. Mas, todos sabemos que no passado instituições e associações mui dignas extinguiram-se devido à falta de entendimento das pessoas. Podemos ainda voltar ao tema Casa de Angola nas crónicas que aqui escrevemos, mas entendemos que nestas quatro semanas foi a melhor forma de agradecermos aos fundadores da nossa “Casa” e prestar um agradecimento a muitos que no passado fizeram o melhor pela associação e deixar uma exortação de futuro, para que pelo menos daqui a dois anos possamos orgulhar ter valido apena, assumir compromissos e formalismos para salvar património material e imaterial que a todos pertence, aos amigos e naturais de Angola. Saibamos cumprir o nosso desígnio!” Finalmente, para que os mais distraídos percebam a nossa coerência de princípios orientadores e estratégicos procurando projetar a Casa de Angola noutros patamares, transcrevemos a entrevista concedida à ANGOP também reproduzida no Jornal de Angola: Casa de Angola em Lisboa assume papel aglutinador 19 Julho de 2019 | 16h45 - Política Lisboa - A Casa de Angola em Lisboa pode desempenhar papel aglutinador, devendo cooperar com as demais associações da comunidade angolana, sempre em parceria com as entidades que representam o Estado no exterior. Esta tese é do presidente desta agremiação, Zeferino Boal, em entrevista à Angop, a propósito do 48.º aniversário da sua instituição, assinalado em Junho. "Reina uma ansiedade pelo sucesso das políticas nacionais" - sublinhou • Presidente da Casa Lisboa, Zeferino Boal (Por Elizabeth Cadete, correspondente em Portugal) Angop - Como avalia o desempenho da Casa de Angola nesses 48 anos de existência? Zeferino Boal (ZB) - Convém explicar o que poucos sabem. A Casa de Angola teve épocas distintas, se descontarmos um período de uma década e meia de inactividade quase completa. Quando foi constituída, tinha princípios que iam para além dos consignados nos estatutos. Vivia-se o período antes da independência. Nos anos 90, a Casa de Angola quase se confundiu, no seu papel, com os representantes do Estado angolano em Portugal. Seguiu-se um período conturbado, felizmente, em grande parte, ultrapassado. Hoje, respeitamos a autonomia das associações e pretendemos, apenas, a estabilidade geracional, para fazer crescer os valores ligados à marca “Casa de Angola”. Angop - Que contributo tem dado no que diz respeito ao apoio à comunidade angolana na diáspora? ZB - A pergunta que deve ser feita é: o que é a comunidade angolana hoje na diáspora? Temos a certeza de que a comunidade angolana na área de Lisboa, em particular, é muito heterogénea: há cidadãos com vida estabelecida, cujas necessidades são de natureza diferente da de outros que lutam pela sobrevivência diária. Como tal, a Casa de Angola pode e deve desempenhar papel aglutinador, mas tem a obrigação de cooperar com outras associações da comunidade angolana e sempre em parceria com as entidades que representam o nosso país em Portugal. Angop - Como conseguem manter a funcionalidade da Casa de Angola? ZB - É uma excelente pergunta. Tinha vontade de, abertamente, dizer o que me vem à alma e ao coração, mas tenho a certeza de que iria criar conflitos desnecessários. Assim, digo apenas que a funcionalidade é graças a muitos que acreditam no trabalho que tem sido desenvolvido e se tornam associados, com quotas em dia. Tomara que muitos outros cumprissem com as suas obrigações! A Casa de Angola pode ser dinâmica com autonomia de gestão, através das quotas dos associados e das parcerias. Angop - Qual é a relação da Casa de Angola com as congéneres dos Palop? ZB - As relações dividem-se em duas partes: as que estão protocoladas em parcerias de cooperação e as que resultam das relações pessoais. No entanto, este âmbito de cooperação nunca está esgotado. Estamos sempre disponíveis para alargar os horizontes de intervenção associativa. Angop - Que dificuldades a Casa de Angola tem enfrentado? ZB - Vamos resumir! A Casa de Angola é uma associação que não tem apoios estatais, porém, consegue gerar receitas, devido à gestão rigorosa e controlada que actualmente se exerce. A maior dificuldade é a falta de compreensão das pessoas que pouco ou nada a visitam, mas produzem, na cabeça, filmes de acontecimentos que não correspondem à realidade, e alguns passaram há mais de uma década. Angop – Qual é a avaliação que faz do estado da cultura angolana em Portugal? ZB - A cultura tem de ser analisada em patamares diferenciados. Há os agentes de cultura consagrados e que fizeram carreira autónoma e a pulso; outros que, com ajudas anteriores, hoje têm o seu estatuto, e existem muitos artistas e escritores que estão a começar a sua carreira. São estes os que mais temos procurado apoiar e ajudar no que é possível e, sempre que viável, convidando os consagrados a estar presentes. Mas, convictamente, a cultura angolana em Portugal vai crescer exponencialmente e melhorar a qualidade. Muitos terão é que procurar outros mercados, atendendo ao facto de o mercado em Portugal ser pequeno. Angop - O que o Estado deveria fazer para mitigar as dificuldades enfrentadas pelos artistas angolanos na diáspora? ZB - Percebo a questão, mas, enquanto líder associativo, não me compete opinar publicamente sobre a política cultural do Governo de Angola. Todavia, como cidadão angolano, estou consciente de que devo fazer a minha parte, para contribuir para uma Angola cada vez melhor. Angop - Qual é a mensagem que deixa para a comunidade angolana residente em Portugal? ZB - Vivemos tempos exigentes e de rápida comunicação, então, saibamos adequar as vantagens que o mundo hoje nos oferece, para procurar, no espaço da diversidade, ideias convergentes, porque temos muito mais denominadores comuns na comunidade do que vivermos em desconfiança. Todos somos responsáveis para a melhoria do bem-estar dos nossos concidadãos no tempo presente e, especialmente, no futuro. A comunidade angolana tem de saber usufruir das oportunidades de que dispõe, que não existem noutros países, e reivindicar para si certos valores expressos nos protocolos existentes entre os Estados. Angop - Como os angolanos em Portugal estão a acompanhar os acontecimentos em Angola, desde que entrou em funções o novo Governo, liderado pelo Presidente João Lourenço? ZB - Não temos a veleidade de falar em nome da comunidade, mas consideramos que a generalidade dos angolanos residentes em Portugal está esperançosa no desenvolvimento económico e sustentado do país. Reina uma ansiedade para o sucesso das políticas. De qualquer modo, há projecções e pontos de vista diferenciados que englobam análises mais pessimistas e outras optimistas. No entanto, há uma geração mais jovem, com uma cultura de conhecimento do mundo e um grau de exigência que está, de certo modo, atenta às novas políticas, que, convictamente, não permitirá que haja retrocesso na acção governativa. Acreditamos que mesmo os angolanos no exterior poderão dar um contributo válido para as mudanças que ocorram em Angola. Por isso, também, é necessário olhar para a questão do voto eleitoral e para a escolha dos representantes da diáspora. Angop - De uma forma geral, como avalia a relação entre os angolanos residentes e a sociedade portuguesa? ZB - Esta relação, na generalidade, é excelente. Mas, isto não invalida que haja questões por se resolver permanentemente. Numa família ideal, existem sempre situações tensas, que só o diálogo é capaz de resolver. Acreditamos que a igualdade de direitos e deveres entre os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) será um longo percurso, mas necessário, para atenuar os seus conflitos. Se um cidadão angolano trabalha em Portugal e contribui para a economia portuguesa, deve ter direitos idênticos aos residentes de outros países, tal como o inverso é válido. Angop – Que ideia tem das aspirações dos jovens angolanos residentes em Portugal? ZB - Devemos olhar para os jovens de hoje como pessoas com um grau de conhecimento diferente e enquadrados num mundo muito circulante. Sendo assim, os jovens com vida estável têm uma visão diferente dos restantes. Temos de trabalhar para que o jovem e a criança angolanos não sejam estigmatizados pelo insucesso escolar e, por isso, circunscritos às áreas de exclusão social. Há necessidade de adequar meios, para criar melhores saídas profissionais e atender às ansiedades e motivações da juventude mais rebelde, já que ela será o garante do futuro do país onde vivem. Há um denominador comum que não deve ser ignorado: a transmissão dos valores da cultura e raízes angolanas. Só assim estes se perpetuarão de geração em geração. Deve ser feito um esforço para se introduzir no ensino, em Portugal, nomeadamente em áreas onde há preponderância da comunidade angolana, os princípios da angolanidade. Quem é o Zeferino Boal? Nasceu em Angola e fixou-se em Portugal com os pais no período crítico da descolonização. Os seus progenitores também nasceram em Angola. Todos possuem a nacionalidade angolana. Zeferino Boal afirma, orgulhosamente, que é o cidadão n.º 224 de Angola. Fez a sua carreira profissional (militar) em Portugal, tendo mantido sempre ligação com Angola, de forma efectiva e afectiva. Foi instrutor do primeiro curso de oficiais da Força Aérea Angolana, decorrido em Portugal em 1994. Esteve em Angola envolvido no processo de paz, integrado nas missões das Nações Unidas (UNAVEM e MONUA em 1996 e 1998, respectivamente). Nesse período, foi-lhe permitido exercer uma actividade de que sempre gostou: a de árbitro de futebol, tendo actuado no Girabola. Diz que foi e será sempre um defensor dos movimentos associativos, daí ter sido dirigente em inúmeros clubes e associações de diferente natureza, o que nunca o inibiu, enquanto cidadão, de exercer actividade política em causas e ideais em que acredita. Possuidor de várias formações específicas, é licenciado em Gestão na área desportiva. Há cinco anos, lidera a Casa de Angola, porque, segundo ele, foi necessário salvar esta associação histórica em Portugal. Inúmeras outras, declarações poderiam ser reproduzidas, não só do signatário deste documento mas também da diretora cultural Márcia Dias e do próprio Paulo Soares enquanto gestor do espaço gastronómico. Não nos recordamos de declarações fossem de quem fosse ao longo destes anos a contestar qualquer entrevista, pelo contrário tivemos sugestões para acrescentarmos pormenores históricos. Não podendo transcrever para estes documentos muitos dados, artigos e publicações de diferente natureza que através dos vários canais de comunicação social e redes sociais temos dignificado a imagem da Casa de Angola, mas honestamente temos que afirmar e enaltecer em primeiro lugar a sempre pronta disponibilidade da artista-plástica Márcia Dias que no âmbito de exposições de natureza pessoal sempre fez referência à Casa de Angola. Em segundo lugar, as intervenções pontuais, quer em entrevistas, quer em serviços prestados pelo Paulo Soares e por fim os inúmeros artistas escritores que levaram a imagem da Casa de Angola mais longe de igual modo.

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