sábado, 11 de setembro de 2021

JORGE SAMPAIO - um outro lado

Muito tem sido dito sobre a personalidade de Jorge Sampaio, como habitualmente, nestas ocasiões, por vezes hipócritamente na morte diz-se bem sobre a pessoa. Jorge Sampaio foi um ilustre político, uma personalidade de contexto internacional e muito em especial um "ferrenho" sportinguista. Não sou daqueles que gosto de surfar a onda e dizer bem ou mal porque os outros o dizem. Protocolarmente, cruzei-me algumas vezes com o Dr. Jorge Sampaio, não só enquanto Presidente da República, mas muito em especial nos inúmeros eventos onde estive envolvido e que contou com a sua presença. Discordando politicamente da figura Jorge Sampaio, apesar do seu trajeto político para mim o maior erro, foi dissolver a Assembleia da República e permitir que chegasse a Primeiro Ministro, o pior político da História de Portugal, no aspeto da corrupção. Os portugueses têm pago e muito por essa escolha democrática. Isto, prova que uma figura que chega ao mais alto cargo da Nação é um ser humano igual aos outros e com as suas qualidades e defeitos, quando toma decisões só o futuro o dirá se são boas ou não. Reconheço a sua coragem política, mesmo de pensamento contrário. Mas, o maior tributo que lhe posso prestar com o seu desaparecimento é contar que fui "praxado" pelo Presidente da Republica enquanto militar. Estavamos em Luanda, no ano 1997. Um dos seus ajudantes de campo foi meu camarada de curso e depois de os receber no aeroporto, integrado na comitiva de recepção, combinei com esse camarada, que à noite iriamos tomar uma bebida algures na cidade. Assim, aconteceu! Obviamente, de forma descontraída as horas foram passando. Mas, de manhã o horário foi cumprido para as cerimónias que se seguiram. Na hora da despedida, e na sala VIP do Aeroporto de Luanda, o Presidente Jorge Sampaio aproxima-se de mim com o meu camarada por perto e os três a sós dirige-se com as seguintes palavras: "vou participar de si, sr. Capitão". Confesso que gelei e em segundos retorqui algumas palavras e questionando-o sobre qual a razão de tal determinação. Talvez, vendo a minha cara de assustado e apesar do sorriso do meu camarada e seu adujante de campo, remata "para a próxima convide-me também!". Foi um momento de brincadeira e que demonstra a sua afabilidade humana, por inúmeras razões, porque permitiu em breve momentos também ouvir o meu testemunho na missão em que estava inserido. Num segundo momento, anos mais tarde. Durante uma visita a São Tomé e Princípe e no decorrer de uma recepção à comunidade portuguesa, nessa altura, estando a comandar do Destacamento da Força Aérea Portuguesa naquele País, talvez ainda recordando o episódio de Luanda. Chamou-me para perto dele, onde se encontrava o Presidente do País, Miguel Trovoada. Talvez tendo conhecimento de alguma coisa que se andava a passar entre o nosso grupo militar e com o então Embaixador, após algumas breves palavras, remata dizendo ao Presidente Miguel Trovoada: "se o Comandante sportinguista se portar mal, telefone-me diretamente para mim". São episódios destes que muitas vezes fazem-nos pensar o quanto a vida é importante e que estamos transitóriamente nos cargos, mas somos humanos. Nunca votei em Jorge Sampaio e no Sporting também acredito que nunca votou do mesmo lado, mas não podia ficar em silêncio com o seu desparecimento, até por ter lidado de muito perto com membros da sua familia, a quem deixo um abraço solidário, muito em especial ao Daniel Sampaio e ao João Sampaio, sem esquecer o Miguel.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

HISTÓRIA 78

Por vezes ouvimos análises a incidentes e acidentes de aviação, que não valorizo; porque recordo sempre muito que aprendi sobre segurança de voo e consequente investigação a acidentes e incidentes aéreos. Foi um dos melhores cursos que usufruí, incluindo pelo espírito de grupo que participou, com uma referência aos compatriotas de Angola.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

HISTÓRIA 77

Ultrapassada em grande parte as questões de pandemia e de outras preocupações, voltemos a contar histórias vividas e vivenciadas. Há muita gente a comentar situações que no passado ocorreram na Guiné-Bissau mas nem todos andaram no terreno, em reuniões de alto-nível ou em contato com a população e perceber o que poderia ser feito pela paz naquele País. Foram experiências extraordinárias, infelizmente, alguns dos interlocutores da época já desapareceram outros ainda vivem situações conturbadas. A grande lição que tive em 2004, é que em Portugal pensava-se de forma errada e os apoios estavam catapultados pela certo horizonte, e a população local queria outro caminho. Ainda hoje se comentem erros de análise!