HISTÓRIA 443
Acabado de chegar à Esq. 501, após ter concluído o curso no Aviocar em Tancos, fui escalado para missões de instrução de navegação no C-130 H. Logo numa das primeiras, calhou ser Lis-Lajes-Lis. No AT1, tentei planear o melhor que sabia, utilizando todos os conhecimentos previamente adquiridos em Tancos.
Após a descolagem e até ao TOC, tentei manter a navegação apoiada no VORTAC do ESP. Surpresa minha, o mesmo estava algures no Atlântico. Percebi que tinham mexido no painel dos circuito-breaks. Sem ajuda rádio, tentei a PMP através da Lua e do Sol. E pronto, a minha alcunha era o Navegas perdido algures no Atlântico Norte.
Aterragem nas Lajes e de seguida fomos almoçar, e durante o almoço a tripulação não parava de me questionar "...então ó Navegas, que ilha é esta onde nós estamos...".
Terminado o almoço e o vexame, a tripulação seguiu para as compras no BX e eu achei que o mais prudente, seria ir directo para o avião e preparar o voo de regresso.
Planeei a rota, de modo a obter dois fixos estrelas, uma vez que o regresso já seria durante o período nocturno.
A tripulação chegou bastante animada, com as compras no BX e um pouco atrasada. O carregamento do avião foi iniciado em simultâneo com o procedimento de iniciar os IRS. Em resultado disso, os mesmo ficaram desalinhados, mas até ali nada o fazia prever.
Descolagem e execução dos procedimentos da saída das Lajes, passando pelos waypoints BRAVO e BRAVO RADAR. A partir daqui, o Checka Navegas iniciou a sua primeira observação com as melhores estrelas possíveis, Casiopeia, Sirius, etc. Após a marcação do fixo na carta, verifiquei estar 5 NM à esquerda da rota. O instrutor desse voo, na altura o Maj. Marta, deu-me as coordenadas do IRS e não estava muito fora da rota. Segunda observação e marcação na carta, agora estava 10 NM à esquerda da rota, numa linha recta em afastamento. Pensei para mim, "...hoje nada bate certo e o mais certo é amanhã ter uma guia de marcha para os Açores, então que se lixe...". Calculei o A/H para LIS, indicando na MSG de posição o rumo 120°(M). O Comandante rodou na cadeira, na minha direcção e disse, " Olha lá ó Navegas, agora queres ir para Marrocos, é ???".
O instrutor Maj. Marta, perante a situação, tomou a responsabilidade de mantermos o rumo por mim indicado.
Chegados a LIS, o Maj. Marta mandou-me marcar a posição dos IRS, na carta. A posição era umas boas milhas a sul de LIS.
Dia seguinte, já na BA6, após o de-briefing o Maj. Marta vira-se para mim e diz, "...tu de radar e sistemas do avião não percebes nada, agora como navegador foste bastante competente.". Aquelas palavras encheram-me a alma. Quando saí da sala, e já no corredor da Esq., cruzei-me com uns pilotos a apontarem para mim e a dizerem..."este é o gajo que afina os IRS".
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