HISTÓRIA 435

Mas com os irmãos Quintanilha nem era preciso. Eles eram malucos e encarregavam-se de criar todas as confusões para que isso acontecesse. Sucedeu comigo e com muitos outros tripulantes. Estive com o Luís Quintanilha, que anos mais tarde morreria num acidente num teco-teco civil, nos Transportes Militares, e devo ter sido o único Navegador que foi dispensado (leiam proibido) pelo Comandante do AT1, de fazer parte de uma tripulação de Boeing em que ele também estivesse nomeado. Por duas vezes durante a corrida de descolagem o homem desligou-me todos os circuitos breakers dos equipamentos de navegação, não mos deixou ligar, e fiz o voo todo sem qualquer equipamento a funcionar. No final do voo, quando fomos chamados ao gabinete do Comandante por participação do estão co-piloto, o Tcor Cortesão, em pleno gabinete ele vira-se para mim e pergunta-me: -- Porque é que está a olhar para mim? E eu calado continuei a olhar para ele. E certamente não seria um sorriso nos lábios. E logo ele atirou para meu espanto e das outras duas pessoas presentes: -- Já sei que tenho cara de estúpido! Foi por isso que a minha primeira mulher me deixou e a segunda está em vias de me deixar também. Estava na tripulação dele quando, um dia num voo de instrução dum co-piloto, durante a final na aproximação à pista de Beja, o avião vinha um pouco fora do alinhamento e ele desata a berrar e a querer bater no co-piloto, que este larga os comandos do avião que continua a descer, até que quando este está praticamente a tocar o chão o Quintanilha agarra o manche, prancha violentamente para alinhar o avião com a pista, e com a asa direita em baixo toca a pista com o motor número quatro a raspar o alcatrão. Felizmente só o motor ficou danificado. Mas dá para perceber a besta que ele era e, que apesar de em circunstâncias normais ser um excelente piloto, nos deixava em pânico, a tal ponto que vi tripulantes a chorar de raiva. Outra vez estava numa tripulação que foi fazer um voo de experiência com o Luís Quintanilha a comandante de bordo, na recepção a um dos aviões após uma grande inspeção nas oficinas da TAP. Fomos para o mar, ao largo de Sines, e aí se deu início a uma lista de procedimentos para verificação dos sistemas de voo. Um das verificações era testar a largada de combustível em emergência. Assim que à ordem o mecânico de voo iniciou o procedimento de baixar os dump chuters e iniciou a largada de combustível. Após isso acionou a recolha dos dump chuters e, como era procedimento um dos elemento da tripulação na cabine de passageiros confirmava visualmente que a largada de combustível tinha parado e os tubos tinham recolhido. Mas, nesse dia não foi esse o caso. E um dos depósitos continuou com o tubo em baixo e a largar combustível. Imediatamente foi abortada a missão e pedido o regresso a Lisboa logo que.o combustível se esgotasse nesse depósito. Entretanto eu refazia os ETA's, o co-piloto fazia as comunicações, o mecânico de voo, responsável pela centragem do avião, pediu ao Comandante mais tempo para fazer transfegas de combustível entre depósitos para compensar o depósito vazio e reposicionar o centro de gravidade. Ao ouvir isto o Luís Quintanilha sai do lugar de pilotagem e vem abanar a cadeira do mecânico, que ficava nas costas do Navegador, e gritar-lhe em altos berros: -- O que é que você quer dizer? que eu não sei aterrar o avião assim em Lisboa? E continuava a gritar repetindo inúmeras vezes a pergunta enquanto tentava arrancar a cadeira do mecânico. Na cabine estávamos todos em pânico sem saber o que fazer. Eu tentava refazer os ETA'S, pois ficávamos limitados a uma VAV máxima de 240 nós, se não me engano. Mas era praticamente impossível naquele inferno. O mecânico já lhe gritava que fosse para o inferno, que por ele não se importava que ele fosse capaz de aterrar o avião ou que se despenhasse na pista. E assim continuamos até que o Quintanilha resolveu voltar para o seu posto e iniciarmos o regresso a Lisboa. Lá consegui dar os ETA'S ao co-piloto e fiquei a acalmar o mecânico que queria abandonar o posto e ir lá para trás. Contudo ele era necessário durante a fase de aproximação e aterragem. Finalmente convencido ele permaneceu no seu posto, mas as transferências de combustível não se fizeram e o avião aterrou em Lisboa ligeiramente descentrado, enquanto o mecânico chorava de raiva

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