INTERVENÇÃO NO IV CONGRESSO DA CIDADANIA LUSÓFONA
20
anos da CPLP
UM
OLHAR E UM SONHO
Caríssimos
Permitam-me umas breves
palavras iniciais para os fundadores do Movimento Internacional Lusófono, na
pessoa do Dr. Renato Epifânio para fazer o público reconhecimento pela
associação criada há alguns anos e em especial pela realização destes eventos.
Estou ciente que a realização destes congressos anuais, faz o seu caminho e
leva uma mensagem adaptada aos tempos modernos que tão breve quanto necessário,
produzirá efeitos globais no espaço lusófono. Não se erguem colunas de espaços
sem o esforço de muitos, e a compreensão de outros, só desse modo se vencem
obstáculos que à partida se pensariam intransponíveis, por outro lado o
mediatismo por vezes tem sido perverso para consolidar projetos e o MIL é um
projeto global que hoje caminha discreta e paulatinamente.
No âmbito destes
congressos temos aprendido com o testemunho de muitos, divergimos de alguns,
mas estamos unidos em pontos de convergência da lusofonia. Mesmo, quando o
conceito de lusofonia seja ainda algo controverso, porque na essência estamos a
designar falantes em língua portuguesa que podem ser lusos, brasileiros,
angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos, são-tomenses, timorenses, guineenses
entre outros.
Uma palavra de
agradecimento à administração e reitoria da Universidade Lusófona, pelo fato de
nos acolher nestas instalações. Sem desprimor para qualquer outra universidade
pública ou privada em Portugal, é justo enaltecer o contributo que esta
instituição tem dado na formação de muitos quadros superiores e intermédios nos
países lusófonos, sejam eles pertencentes à administração pública ou à
atividade económica privada. Também esta Universidade tem tido a sabedoria em
ultrapassar as adversidades que têm surgido no mundo mediático, no entanto, é
justo fazer este público reconhecimento e agradecimento.
Nos últimos anos tenho
tido pequenas intervenções nestes eventos, as quais apesar de ocorrerem no
tempo destinado a uma associação no caso a Casa de Angola, em nada vinculam a
associação nem os angolanos, apenas e somente sou o responsável por esta intervenção,
por isso o título: Um olhar e um sonho!
O título base deste
congresso é a comemoração dos 20 anos da CPLP. Apesar de amplamente
referenciado recordemos os objetivos gerais da CPLP:
Artigo 3º
“a) A concertação
político-diplomática entre os seus membros em matérias de relações
internacionais, nomeadamente para o reforço da sua presença nos fora
internacionais;
b) A cooperação em todos
os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa,
agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública,
cultura, desporto e comunicação social;
c) A materialização de
projetos de promoção e difusão da Língua Portuguesa, designadamente através do
Instituto Internacional de Língua Portuguesa.”
Não pretendo ocupar
demasiado tempo na análise estatutária sobre o funcionamento da CPLP mas de
forma pragmática terei que considerar que os objetivos gerais são de tal modo
tão alargados que por vezes pode pressupor que a estrutura da CPLP tem
capacidade de intervir em todas as áreas, o que na realidade não acontece
porque existe a autonomia dos Estados que compõem a CPLP.
È neste emaranhado de
contradições e /ou desilusões entre a conceção teórica da CPLP e a sua prática
que por vezes é linguagem corrente que a CPLP não serve para nada e torna-se
inútil no apoio aos povos. Talvez aqui referir que os cidadãos e no caso em
Portugal tem o modelo de comparação com a estrutura da União Europeia. Será
injusto tecer esta comparação ou não? Digamos que em parte o comum do cidadão
tem razão.
Entendemos que a CPLP
surgiu num momento oportuno após a independência dos países africanos de língua
portuguesa e como aglutinador de fechar o ciclo colonial e promover a
identidade comum consolidando as convergências, na busca da paz que tanto se
desejava e hoje estendida a quase todos os territórios. Também outras
organizações internacionais surgiram para consolidar processos de paz entre
povos.
Na CPLP ao invés de outras
estruturas internacionais as decisões são tomadas por unanimidade na maioria
das decisões e o peso de voto é igual “interpares”. Mas, tenhamos consciência
que o mundo tem mudado ao longo destas duas décadas, países como Angola tem um
envolvimento internacional como não ocorria no passado devido a diversos
fatores internos e externos.
Caríssimos,
Assumo a minha
angolanidade e com estas palavras não pretendo desrespeitar ninguém, mas com o
olhar de um angolano com carreira e vida feita em Portugal, acredito que a CPLP
pode e tem que ser mais forte e envolvente dos Estados e Povos que a constituem.
Num futuro muito próximo, é já ali, faltarão duas gerações e pouco para que
existam no mundo 400 milhões de falantes e dois terços viverão no Brasil e
Angola. Como tal, o eixo de relevância é deslocalizado para o hemisfério sul.
Em 2016 o centro do mundo
industrial e do desenvolvimento não está centrado na Europa, mas sim
descentralizado, e como tal urge introduzir dinâmicas unificadoras entre os
povos membros da CPLP. Se assim não acontecer, os interesses económicos e
financeiros do mundo global que vivemos facilmente destruirão este sonho de
irmandade que tanto apregoamos como exemplo para o Mundo, apesar de todos os
focos de conflitos que existiram e outros surgirão.
Com muito pragmatismo
defendo a existência de um acordo ortográfico único, seja ele qual for, só
assim haverá contributo para que se cumpra o papel da língua portuguesa em
diferentes áreas que vão desde o direito internacional ao reconhecimento de
patentes, porque há força económica também para isso.
Não esqueçamos o espaço
marítimo internacional que é controlado ou deve ser controlado pelos Estados
lusófonos e subindo no ar, tem implicações no espaço aéreo porque, tenhamos
consciência e assumamos infelizmente alguns dos nossos países lusófonos
delegaram esta autonomia e responsabilidade em Estados vizinhos; daqui advém a
perda recursos financeiros e questões de defesa vulneráveis.
Há um longo caminho ainda
a percorrer no reconhecimento de competências profissionais e curriculares,
entre Estados, quando assistimos a constância de preletores nomeadamente
portugueses a deslocarem-se por exemplo a Angola lecionarem matérias que depois
não são reconhecidas em Portugal.
Minhas Senhoras,
Meus Senhores,
Poderia continuar a
elencar inúmeras questões do âmbito social, económico, cultural e desportivo,
entre outras pelo que há a fazer no âmbito da CPLP. Tenho o sonho e a visão em
acreditar na cidadania lusófona idêntica à livre circulação de pessoas e bens
na União Europeia, porque hoje o dinheiro já circula de uma forma fácil e
legalmente entre os Estados da CPLP, apesar dos casos ilegais e nefastos que
são públicos. Tal como afirmei no ano passado prefiro capital proveniente de
Angola e injetado numa empresa portuguesa e o inverso também ao invés capital
vindo de Espanha ou de outras paragens.
Para aqueles que pensam o
contrário e que respeito, olhem para a História da humanidade e constatem onde
está o progresso e desenvolvimento em crescimento. Não esqueçamos de ter uma
leitura bíblica para encontrar referências a povos que saíram do agora
denominado médio-oriente e estacionaram no planalto angolano, onde por acaso
existem as então denominadas “Minas de Salomão”.
Acredito na CPLP como
estrutura de suporte à cidadania lusófona e eventos desta natureza, como este
congresso, que tem que olhar para uma saudade de futuro e não passadista, pode
dar contributos valiosos e conjugar esforços. Vivemos um tempo em que as
politicas têm que ser mais exigentes e transparentes e os cidadãos contribuírem
para influenciar os decisores políticos.
A terminar sem colocar em
causa o papel promotor do MIL, urge criar uma plataforma que aglutine as
associações das comunidades lusófonas residentes em Portugal para darem
contributos sérios e valiosos na busca de soluções para resolver problemas de
primeira necessidade às pessoas, desde a educação, à saúde, emprego entre
outros.
Dou-vos um exemplo: faz
sentido que artista oriundo de um país africano residente em Portugal há mais
de dez anos e como é artista trabalha sem contrato de trabalho, no sistema de
famosos recibos verdes, não lhe é concedida residência permanente porque não
tem contrato vinculativo de trabalho?
Temos que dar sinais
significativos para a plena cidadania lusófona, criando nos curricula do ensino
nos diversos Estados conhecimentos sobre a lusofonia.
A união faz a força!
Apesar das divergências, muitas resultantes das questões pontuais dos
interesses a convergência é bem maior, e no caso angolano – português é um
exemplo pragmático dos casos de amores e zangas existentes.
Agradeço a atenção
dispensada e sonho que daqui a 20 anos possamos alguns de nós a comemorar outra
data da CPLP e dizer com maior convicção: Valeu apena!
Está na hora!
Estamos juntos!
Disse!
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