terça-feira, 11 de outubro de 2011

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

A Fundação Gulbenkian, com Azeredo Perdigão e Madalena Perdigão, tornou-se um esteio da cultura e da investigação científica em Portugal. As bibliotecas itinerantes, o Museu, o Serviço de Ciência, o Instituto Gulbenkian de Ciência, as edições, o Serviço de Música que incluiu uma excelente programação, uma orquestra, um coro e uma companhia de bailado, o Centro de Arte Moderna e as bolsas foram marcando uma actividade incessante.

Hoje fala-se da sucessão de Emílio Rui Vilar, o actual presidente, que atingiu os setenta anos, um homem dito culto e interessado por cultura, um político do PS, um antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos, ex-secretário de Estado, deputado e ministro em diversos governos; ter sido comissário da Europália deu-lhe uma espécie de estatuto cultural. No entanto, este presidente da Gulbenkian não tem currículo académico ou como pensador; é um bancário e gestor de formação que se afirmou como político. Não se lhe conhece qualquer pensamento estruturante, qualquer ideia filosófica, qualquer texto notável sobre qualquer assunto. A sua grande decisão como presidente da Gulbenkian foi acabar com o Ballet Gulbenkian, um verdadeiro crime contra a cultura.

Infelizmente, a Fundação Gulbenkian tornou-se numa instituição em circuito fechado, auto-governada por um Conselho que vai cooptando os seus membros. Começou a ser dominada por ex-políticos, pessoas quase todas com currículos menores, à excepção do decorativo gestor não executivo Eduardo Lourenço. Retirar-se da acção cultural e beneficente directa e actuar como máquina de dar subsídios parece ser o paradigma da actual estratégia que norteia a casa, isso e dar chorudos vencimentos aos gestores, numa época de grande prosperidade no investimento petrolífero mas de crise generalizada no País.

Só assim se justifica que se fale de nomes como Jaime Gama ou de Luís Amado, outro bonzo do regime, ou, ainda, de Guilherme de Oliveira Martins, em lugar de grandes cientistas, artistas ou pensadores. Porque será que a Fundação que Gulbenkian legou a Portugal tem de ser gerida por um político reformado? A gestão de uma fundação gerida em cooptação facilmente se toma pasto dos interesses próprios dos seus administradores. Penso que o Estado deverá obrigar a revisões de estatutos que obriguem a uma verdadeira renovação dos órgãos dirigentes das fundações e que, a ser escolhido um ex-político, que ao menos esteja ligado à cultura e ao pensamento, como por exemplo a escolha, menos má, de Oliveira Martins.

POR MANUEL SILVEIRA DA CUNHA (O DIABO)

1 comentário:

  1. Este é um testemunho lançado ao mundo. Traduz e é semelhante a muitíssimos outros de quem vai assistindo ao afastamento do reconhecimento aos dedicados ás várias formas de arte e de pensamento.
    Parece-me que a honraria de "Mérito Desportivo" encaixaria, com toda a legitimidade, aos desportistas referenciados na missiva a que adiciono este comentário.
    Francisco de Pina Queiroz

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